Por todas as mulheres que sofrem caladas,
Eu não me calo!
Por todas as mulheres que enclausuram-se atrás de máscaras de santidade,
Eu não me escondo!
Por todas as mulheres que prensam sua liberdade às suas maiores profundidades,
Eu me abro!
Por todas as mulheres que bicam suas próprias asas até ceifá-las,
Eu voo alto, estilo Ícaro, até queimar-me no sol!
Por todas as mulheres que enfeitam-se e fantasiam-se de princesas mitológicas condenadas à perfeição,
Eu me desnudo, me exponho, me entrego!
Por todas as mulheres brutalmente massacradas precisamente por suas fragilidades,
Eu me martirizo como Jesus aos pecadores!
Eu me entrego, porém não me rendo
Mesmo trajando renda, eu martelo, pulo, caio, corro
Sou loba, flor de lobeira
Passarinha cantadora das asas pequenas
Mas que voa longe, longe
Longe da visão turvada, até sobrar somente a silhoueta
Meus olhos são de gavião
Meu coração é uma rocha
Maciço, cristalizado
Goticulado com as preciosidades mais raras
Enquanto não se desmascaram as farsas da hipocrisia injusta
Minha armadura é o ar
O vento, qualquer que seja, que impulsiona minhas asas
É liberdade
Minha redentora, minha maldição
A própria perdição é o antídoto -
Sem ter sido envenenada, não mato a serpente
O veneno sai da boca de quem o sente
E eu me apaixono, me engano
Finjo que me amo
Quando na verdade o que amo é ser
Qualquer ser - na verdade, quanto mais obscuro, melhor
Quanto mais difícil de amar, mais me atrai
Quanto mais precisa de amor, eu peço
Quanto menos precisa de dor, eu dou
Maior é meu estado de delicadeza, mais grossa é a carcaça que me cerca
Ainda assim, sou flor
Sou asa de borboleta
Toda delicadeza da mãe-loba recolhendo seus filhotes
Toda fortaleza da mulher, geradora
Pachamama
Vida, luz
17/03/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário