sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Tratado da Revolta Geológica

Mundo que cala minha poesia
Melancolia é inspiração
A tristeza, resseca

Intenções incertas
Motivações inescrupulosas
A hipocrisia impera
Um senso do "eu" completamente distorcido

Pois não me calo
Conheço o adjetivo "chata" -
Aquela que incomoda
Que cutuca sua ferida mal curada
Te aponta a causa de sua dor
Que você quer esquecer
Mas todos os dias geme pra mim, em agonia
Sua dor é você tampando suas feridas
Com tecidos fétidos, mais impuros que o poluído ar
Infecciona teus pensamentos
Incha teu cérebro, a pressão lhe transtorna
Extravasa as violentas águas da ignorância morro abaixo
Desestruturada barragem do raciocínio
Canalizando as águas do seu leito natural
Para valas concretadas, impermeáveis ao conhecimento
Não há recarga das fontes subterrâneas do auto-conhecimento
Os poros são obliterados pela imundice, ressecando os mananciais que alimentam a alma
Antigas idéias são soterradas pelo assoreamento e vão sendo extintas, porém fossilizadas
Se estratificam como leques aluvionares, carregando todo e qualquer detrito encontrado no caminho, sem distinção ou critério
Petrificam-se sem eliminar suas próprias impurezas
Lança seus clastos em terrenos ainda não-consolidados, em processo de sedimentação
Perturbando os estratos da consciência
Obliterando estruturas naturais
Erodindo a construção de um ser cidadão
Só o que importa são minérios, riquezas
Taxando de ganga tudo aquilo que ameaça seu poder de ostentação
Tudo que conta a evolução geológica de uma nação
Não queremos saber o contexto, a história
Só se interessa extrair, explodir
A popa mineralizada
Meter as mãos em todo o ouro
Só para ti
Só para ti
Só, para-te
Só para

Para


27/10/2015

Foto: Elvira Nscimento
Rio Doce após rompimento de barragem de rejeito em MG.

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