sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Boemia Moderna

   Com a boa e tradicional boemia dos antigos e poetas e sofredores, sento-me ao bar para beber sozinha. Uma cerveja grande (para eu sozinha) e não tão gelada - como uma alcoólatra, já no primeiro gole sinto-me embriagada de um passeio por sítios tão belos, e de tanto pensar. Infinitivo... por que lhes causa tanto incômodo um verbo sem conjugar? Qual o grande problema em pensar, pensar, pensar...? Querer e gostar do silêncio, não precisar sempre de incêndios e nem mesmo de que o vento sopre... É assim, tão esquisito, estar só? Sempre precisamos estarmos atados, amarrados, ligados mesmo que seja por nós - se na verdade para sempre estou contida em mim? Será sempre assim? Minha carne e sensações grudadas em mim. São sensações penetrantes, sangram algo de puro em mim.
   Zumbis eletrônicos, suas solidões os levam a robôs e aparelhos; ao invés de desfrutarem de suas cervejas, e suas próprias e provavelmente tão interessantes companhias! Embriaguem-se, entretenham-se ao menos com suas cervejas e loucuras ao invés de com a imbecilidade cibernética alheia! Mirem mares e lagos, esperando avistarem sereias, reclamem das coisas feias que os seres humanos fazem - enquanto vocês ignoram, outros seres humanos fazem, e jamais reagem, acreditando ser impossível alcançar o que qualquer outro ser humano faz. Submete-se, subjuga-se, não se ajuda a sair dessa merda que nos usa, julga e joga fora, como faz com tudo. Tem que ter jogo duro para lidar com tudo; força para não perder a si mesmo e encontrar o caminho comum e batido, já coberto por lixo e bosta - ao redor, vê-se só miséria, as costas de mar já foram empurradas para longe, longe da gente. Ninguém mais sente. Mas todo mundo sente - muita raiva, muito rancor - tudo isso na verdade é muita dor. É falta de amor. Então, ficamos "lindos" para receber alguma atenção, bebemos juntos, sem nem saber a intenção. Esquecemos do mundo, nos isolamos em solidão. Não queremos chamar atenção porque não queremos dar atenção! Dá muito trabalho dar e sentir carinho, se esforçar um pouquinho, tentar sempre, sempre o melhor possível... ai...
   Vamos sentir a dimensionalidade da tela, plana e reta, como os nossos sonhos e objetivos. Sem escala definida, sem curva, sem inclinação - apenas uma reta apontada ao infinito que nunca chega, mal se sabe o que se deseja, muito menos o que se almeja!
   Volto a olhar (no infinitivo) a minha cerveja, ainda fria, pálido amarelo; nesse momento, minha única companheira...

18/09/2013

Arte: Bruno Marafigo

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