segunda-feira, 4 de abril de 2016

Não foi de coração...

Você tem razão: o que te dei não foi do meu coração. Foi do meu suor. Eu não acordo todos os dias pra trabalhar por amor, mas por sacrifício. Para executar todos os dias uma tarefa que eu não amo, mas que pelo meu esforço será meu trampolim para alcançar o que eu amo. Eu não abandono minha casa, meus bichos, minhas plantas, pelo desejo do meu coração e sim para abrir os caminhos para que um dia, meu coração tenha voz em sua máxima expressão. Eu não evito bares e biritas, cachoeiras e viagens, porque prefiro a reclusão e sim porque quero de um dia em diante não ter hora pra voltar. Quero que, um dia, meu coração possa sonhar e abrir asas para voar até alcançar os sonhos. Sei que não se voa sem antes bater muito as asas, sem esforço contínuo, suas asas apenas te derrubam de um ponto mais elevado. Não foi do meu coração que te dei. Foi dos meus braços, dos meus pés, dos meus pulmões, do meu riso silenciado. Foi do meu labor. Agora, se for do coração que você quer e realmente valoriza, tenho histórias de todos os tipos, tenho percepções, tenho paisagens belas, tenho observações. Mas nunca foi o que tinha no meu coração que você quis. Foi o que tinha no meu suor, que você não quer derramar o seu. Foi o que tinha nas minhas mãos cortadas e ásperas como de um homem das lavouras que planta, colhe e prepara. Foi o que tinha no meu sacrifício como de tantas mulheres que dedicam a vida para cuidar. Não dei do meu coração, dei de todos os outros músculos do meu corpo. Mas, se pra você só vale o que vem do meu coração, não olhe para o material...

31/03/2016

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